A exclusão e estigmatização social de pessoas diagnosticadas: Um olhar fenomenológico existencial
DOI:
https://doi.org/10.33448/rsd-v14i11.49989Palavras-chave:
Estigma social, Diagnóstico psiquiátrico, Exclusão, Fenomenologia existencial, Subjetividade.Resumo
A exclusão social e o estigma associados às pessoas diagnosticadas com transtornos mentais constituem não apenas barreiras à convivência social, mas também formas de inviabilização de sua existência enquanto ser-no-mundo. O rótulo imposto pelo diagnóstico, frequentemente reforçado por discursos biomédicos e pela cultura social dominante, compromete a liberdade, a identidade e o direito de ser desses sujeitos, reduzindo-os à condição clínica que lhes é atribuída. Diante disso, compreender o impacto do estigma na constituição da subjetividade torna-se essencial para pensar práticas psicológicas mais éticas, humanizadas e abertas à singularidade de cada existência. Este estudo tem como objetivo refletir, à luz da fenomenologia existencial, como o estigma e a exclusão impactam a subjetividade e a relação do ser de pessoas diagnosticadas com o outro, considerando, ainda, como esses sujeitos se percebem e são percebidos pelo mundo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, fundamentada na análise de produções acadêmicas publicadas entre 2015 e 2025, além de obras clássicas da área. A busca foi realizada em plataformas como SciELO, Google Acadêmico, PEPSIC e Periódicos CAPES, utilizando termos estratégicos relacionados ao tema, tais como “estigma”, “transtornos mentais”, “fenomenologia existencial” e “subjetividade”. Os resultados evidenciam que a escuta clínica sustentada na perspectiva fenomenológico-existencial possibilita desconstruir a visão reducionista imposta pelo diagnóstico, permitindo que o sujeito seja reconhecido para além do rótulo que o aprisiona. O estigma, quando internalizado, fragiliza a experiência de si e compromete o modo de ser-no-mundo, gerando exclusões que ultrapassam o âmbito social e alcançam o nível ontológico — o próprio sentido de existir. A análise também aponta que o olhar clínico pautado na abertura à alteridade favorece o resgate da autenticidade e o reconhecimento da dignidade humana, rompendo com práticas desumanizadoras que reforçam a marginalização do sofrimento psíquico. Conclui-se que o diagnóstico psiquiátrico, quando utilizado de maneira rotulante e descontextualizada, tende a produzir efeitos de exclusão e estigmatização, distanciando o profissional de uma compreensão integral do sujeito. Assim, torna-se indispensável uma postura ética, humanizada e fenomenologicamente orientada, que reconheça a pessoa em sua totalidade e respeite sua liberdade de ser. A ética, nesse sentido, deve atravessar toda a prática psicológica, sustentando uma escuta comprometida com o outro em sua singularidade e com a promoção de uma existência mais autêntica, livre e digna.
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