Problemas cotidianos, percepções da população e medicalização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33448/rsd-v11i6.28869

Palavras-chave:

Medicalização; Saúde Mental; Sono; Apetite; Promoção da saúde.

Resumo

A medicalização é um fenômeno historicamente constituído que abrange dimensões da educação, saúde, cultura, trabalho, indústria, enfim, das relações sociais e experiências subjetivas. Trata-se de um projeto cientificista que compreende, a partir de uma perspectiva reducionista e individualizante, processos de saúde-doença que envolvem complexos, diversos e inter-relacionados aspectos da existência - biológicos, psicológicos, sociais, históricos, estruturais, institucionais. Atentando para a presença desse fenômeno no cotidiano do nosso tempo, a presente pesquisa visou compreender as percepções e vivências da população sobre quatro fenômenos medicalizáveis: alterações no sono, no apetite, na concentração e na motivação. Para tanto, aplicou-se um questionário virtual avaliando frequência e motivos identificados pelos sujeitos para tais fenômenos. Os dados foram analisados por metodologia quantitativa e qualitativa e indicam prevalência dos quatro fenômenos superior a 90%. Constata-se também que, em 60 a 80% dos casos, os participantes associam alterações de sono, apetite, concentração e motivação a problemas da vida cotidiana, como sobrecarga de atividades, problemas econômicos e relacionais. Aponta-se para uma associação significativa entre fenômenos medicalizáveis e cenário de vida dos afetados, o que implica atentar para uma precarização estrutural da qualidade de vida e, por outro lado, para os riscos da medicalização sem a problematização do contexto. Tal panorama consiste num alerta para profissionais de saúde, cuja prática diagnóstica pode prematuramente patologizar de modo individual fenômenos de formação complexa.

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Publicado

24/04/2022

Como Citar

BRUST, R. E. F.; BRAGA, T. B. M.; FARINHA, M. G. Problemas cotidianos, percepções da população e medicalização. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 6, p. e17711628869, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i6.28869. Disponível em: https://www.rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/28869. Acesso em: 18 maio. 2024.

Edição

Seção

Ciências Humanas e Sociais